Namorado Imaginário

   Lola estava apaixonada. O grande problema era que seu namorado não existia, era imaginário. Sim, igual àqueles amiguinhos imaginários da infância, porém Lola não era mais criança.

   Ela mantinha uma relação – se é que podemos chamar de relação – com esse namorado imaginário, até sexo fazia: aqueles sexos psicológicos, algo verdadeiramente muito louco, porque ela só o fazia para satisfazê-lo, pelo menos era isso que ela dizia na tentativa de justificar sua falta de gozo.

   Suas amigas tinham uma voraz curiosidade de conhecer esse tal namorado, mas Lola nunca o levava para lugar algum: namorados imaginários são passivos, só fazem e só estão nos lugares que você quer: “Ele não veio porque estava ocupado”, “Ele chegou cansado do trabalho”, “Viajou a negócios”, o que não faltavam eram desculpas. Suas amigas de certa forma ficavam frustradas com tantas desculpas, quando uma delas disse:

_Ele é realmente tão ocupado Lola! Tão ocupado que não tem tempo para você... Afinal você sempre sai com a gente e ele nunca vem.

_Tento compreendê-lo, afinal, acho que o nosso relacionamento é perfeito! _rematou Lola.

   A questão era que mesmo namorando, Lola sentia-se sozinha. E a solidão, por vezes, é a culpada por alguns atos reprováveis.

   Numa dessas noites Lola estava com as amigas numa boate (sem o namorado, obviamente), quando um rapaz se aproximou dela e a chamou para dançar. Lola quis recusar, mas as amigas a estimularam.

   No meio da pista o rapaz e ela conversavam quando ele a beijou. Ferozmente ela se encantou com o beijo e entregou-se ao momento. Ela foi beijada, beijada de verdade! Os dois saíram da pista e foram para um lugar reservado: pegadas quentes e muita excitação.

   Depois que Lola se desvencilhou do rapaz, voltou para suas amigas que comentaram:

_ Você acabou de trair seu namoradinho tão perfeito!

   Lola caiu na real: ela tinha traído seu namorado imaginário, e o pior era que seu namorado tinha visto tudo, pois ele sempre estava com ela. Céus! Começou um jogo psicológico: o namorado traído revoltou-se. Lola tentou justificar-se.

   A partir deste dia Lola não se encontrou mais com seu namorado – ex – ela trocou um relacionamento por uma aventura, não soube controlar os desejos do corpo e acabou perdendo o namorado que nem sequer existia, mas que morava em sua alma, um namorado tão perfeito! A questão é que tudo o que é perfeito demais não é real, a realidade não é bucólica, muito pelo contrário: é um tapa na cara.

[Camila Márcia]

"Como seria simples encontrar a paz num mundo imaginário! Mas sempre tentei viver nos dois mundos ao mesmo tempo..." (Milan Kundera)