A Felicidade voa: mas não é como um pássaro que pode ser engaiolado.

Papel e caneta em mãos escreveu as seguintes linhas:

    Querida Catarina,

    Tenho uma certa superstição – um medo – em dividir minha felicidade com outras pessoas. A felicidade é algo tão frágil, não é? Mas sinto que devo dividi-la com você, pois se foi com você que dividi minha infelicidade, seria injusto não dividir, também, minha felicidade: minhas alegrias.

    Quando aceitei viajar com Diego senti medo de estar fazendo a escolha errada, mas aí pensei: de tantas escolhas erradas que já fiz, porque essa seria pior que as outras? Você sabe que gosto de arriscar, pois tenho esperança de que dentre tantas escolhas eu esteja fazendo a certa.

    Confesso que estes dias tem sido um bálsamo para mim: jamais julguei poder sentir tanta felicidade. Creio que Diego também sente o mesmo, passamos horas conversando, outras tantas calados e, em todos estes momentos, somos cúmplices.

    Sigo à risca uma máxima que Goethe escreveu em Werther: “Os mais felizes são exatamente aqueles que vivem sem se preocupar com o futuro”, sou feliz porque vivo o momento aproveitando-o com intensidade.
    Parece loucura não pensar no futuro, mas eu já vivo o futuro: meu futuro pode não passar dos dois minutos seguintes, então não penso neles: apenas vivo.

    Por fim, quero dizer que sinto saudades de você.

De sua sempre amiga:

 Amélia.

Ps.: Queria que você conhecesse todos os lugares lindos que tenho visitado. Mando fotos.

Dobrou, selou e enviou a carta.

Amélia depois de tantas desventuras e anseios em esquecer seu passado desistiu, pois nada o faria mudar: rasgar ou virar as páginas não mudam uma história. Continuar lendo e/ou escrevendo é que faz tudo mudar. Existe melhor maneira de mudar e esquecer algo que continuar vivendo? O tempo é que faz as histórias caírem no esquecimento.

[Camila Márcia]