Ela tocava...

Para: W                     

Ela saiu tocando, não queria nem saber onde e nem como, só queria mesmo era tocar, saber qual a sensação de se esvaziar com um simples toque – queria saber o que se sentia ao tocar. 

Ela quer descobrir o que se sente ao tocar, porque é novo esse sentir, quer ler seus próprios pensamentos e degustar cada sensação voraz, quer saber tudo, mas não consegue... 

Então desfruta cada toque, cada sensação... Como se fosse única: a primeira e a última. Como se cada corda a expusesse, como se a despisse despudoradamente, porque não lhe mostrava apenas o sexo, mas a alma. 

A alma é a coisa mais profunda para se mostrar, aquilo que não se lê, aquilo que só se pode sentir e vê em momentos de profunda intimidade – quando se faz o que ama, o que gosta. Tudo o que é feito com amor é como fazer amor ao ar livre. Sem medo, sem pudor, sem se importar...

É fazer tudo e ao mesmo tempo nada. Deixar-se levar por sons, gestos e olhar ao redor e ver todos apreciando aquela nudez de alma, de espirito... de corpo. Admirando tudo, como realmente é para se admirar... 

Porque tocar é bom, deslizar as mãos pelo instrumento é bom, sentir a vibração é bom...Então, ela percebeu, que tudo o que tocava era muito bom, mesmo sem saber tocar.

 [Camila Márcia]

Quem não ouve a melodia acha maluco quem dança... (Oswaldo Montenegro)

Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música. (Aldous Huxley)