domingo, 14 de agosto de 2011

Talvez quem vê bem não sirva para sentir*


*Fernando Pessoa

“Estou feliz, muito feliz! Há tempos não sentia tanta felicidade... é como se eu estivesse a ponto de explodir”.
O que Sofia não sabia é que ela realmente explodiria, só que de tristeza.
“Vou fazer muitas coisas hoje: ler um bom livro, comer chocolate, ouvir Madonna, talvez eu mande uns e-mail e acesse o Facebook e o Twitter!”
Ela faria exatamente isso mesmo, só que depois se cansaria, ficaria super entediada e resolveria sair para comer e beber alguma coisa numa lanchonete de esquina, cujo atendimento não era um dos mais excelentes, mas atendia financeiramente os mais desvalidos de recursos financeiros.
“Quero um Cheeseburger, uma porção de Batatas fritas e uma lata de Sprit, por favor!”
Enquanto a pobre e desventurada Sofia esperava seu pedido com um sorriso no rosto, na verdade era um daqueles sorrisos que as pessoas dão quando estão sorrindo à toa. Nesse momento, crucial, seu sorriso foi se desmanchando em câmera lenta, super lenta, lentíssima.
Renato e sua fabulosa e estonteante namorada chegaram à lanchonete de esquina, cujo atendimento não era um dos mais excelentes, mas atendia financeiramente os mais desvalidos de recursos financeiros.
Renato chocou-se instantaneamente como olhar assustado e já entristecido de Sofia. Olhou para a namorada e falando algo ao seu ouvido, deram meia volta e saíram. Não sentaram, nem viram o cardápio, não falaram com ninguém e parece que ninguém, a não ser Sofia, percebeu a entrada e a saída do casal.
O garçom depositou o pedido de Sofia em sua mesa e quando ia sair, Sofia puxou-lhe a manga do uniforme e perguntou:
“Quanto custa?!”
Pagou e levantou-se para sair, sem ao menos tocar na comida sobre a mesa. As moscas fariam o trabalho por ela.
Ao cruzar a porta da lanchonete, duas tristes e companheiras lágrimas desceram por sua face. Elas sempre lhe faziam companhia quando estava triste: somente as lágrimas lhe ajudavam a superar a dor, quando elas desciam, parecia que a dor ficava um pouquinho menor.
“Este é só mais um dia triste, parece que mesmo sem querer colecionar tristezas eu estou me tornando a maior colecionadora”.
Quando não queremos as coisas é que as temos! Quer dormir? Não tem sono. Tem comida boa em casa? Não sente fome. Quer chorar? As lágrimas ficam travadas. Quer gritar? A garganta não tem força. Assim por diante...
“Pelo menos a espera acabou, sei quem ele escolheu. Agora eu escolho escrever outro caminho, escolho me dar uma outra oportunidade de ser feliz. Vou esperar a dor passar, pra ver qual passo devo tomar. Eu nunca faço boas escolhas quando dói aqui no peito, na alma e quando o vazio não quer ser preenchido”
Quem quer encher uma piscina com lágrimas? Sofia está a disposição para doá-las.
“Odeio os dias que começam demasiadamente felizes, tenho a impressão de que neles a possibilidade de terminar em tragédia tem uma porcentagem enorme, não igual as tragédias de Shakespeare, mas tão comoventes quanto...”
Porque quando dói o que menos importa é o motivo da dor, as dores são grandes seja lá quais motivos forem. O que dói, dói e a dor já basta. A única utilidade de saber os motivos da dor é para se entender as consequências dela.
"Que eu sofra bem muito, mas eu sei que esqueço"

[Camila Márcia]

2 comentários:

  1. E entender as consequências dela é o que menos queremos entender, só quando passa e vira pó é que vemos o quanto aprendemos na dor.

    Os olhos são cegos.
    Beijos!!

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  2. Meu Deus! Quando eu penso que as coisas estão indo bem pra Sofia, vem o Renato e me apronta uma dessas, ai ai.

    Já que a dor é inevitável, façamos dela um bonito e doído aprendizado, que sejamos fortes para passar pelas tormentas, pelos vendavais com a delicadeza de sempre.


    "(...)somente as lágrimas lhe ajudavam a superar a dor, quando elas desciam, parecia que a dor ficava um pouquinho menor."

    Chorar alivia né.


    um beijo*

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