sábado, 6 de novembro de 2010

Inconstâncias


Faz um ano que ele se foi, mas para mim é como se tivesse sido ontem: a dor, as lembranças continuam as mesmas.
Lembranças de momentos felizes, alegres – momentos inesquecíveis – fui feliz até o ultimo momento em que passei ao lado dele, claro que havia um sofrimento por conta da certeza da separação, algo que na realidade se tornava a cada dia inevitável, mas eu era feliz porque apesar da certeza (ou talvez justamente por causa dela) eu me propunha a aproveitar cada segundo ao lado dele.
Então nós riamos, conversávamos, olhávamos nossas fotografias (fotografias que ainda guardo e que não há um dia sequer em que eu não as veja).
Eu tentava desesperadamente não pensar que ele iria me deixar, que eu ficaria sozinha; não queria preocupá-lo com meu egocentrismo exacerbado, com meus medos. Por acaso ele já não devia estar com o coração cheio de medo, cheio de incertezas? Ele já devia estar muito inseguro, eu não complicaria mais sua breve vida.
Não sei exatamente quando aconteceu, de fato, Carlos foi ficando cada dia mais frágil, mais debilitado. Fomos a vários médicos e nunca nos diziam o que ele tinha realmente, diziam apenas que se continuasse assim ele logo morreria.
Aquela declaração abalou nosso relacionamento, tentávamos evitar falar nisso, o medo nos perseguia durante as 24:00hrs do dia. Um duelo muitas vezes sem propósito, pois como lutar contra o destino? Éramos meras pessoas que almejavam apenas viver nosso amor, nosso relacionamento, mas creio que as possibilidades tornavam-se a cada dia mínimas.
Então ele desistiu de lutar contra seu destino e disse que viveria o tempo que lhe restava em paz, até porque o fatídico dia chegaria para todos, então porque não aproveitar a vida e deixar de viver tentando evitar a morte que viria inevitavelmente?
Decidimos fazer viagens, sorriamos e passávamos horas na cama abraçados sem falar uma palavra sequer. Tínhamos medo de falar algo que estragasse o momento.
E ele foi ficando cada vez pior. Ele não sabia, mas quando eu saia do quarto, de perto dele eu desmoronava: chorava, gemia e olhava tudo em minha volta com um ódio intenso: por que quando eu tinha conhecido o amor da minha vida ele decidia partir?
Ele não se levantou mais e prostrado me dizia (naquele que seria seu último dia):
_ Elisa eu queria te pedir uma coisa _sua voz não era mais que um suspiro_ quero que seja feliz, que não desista de viver só porque eu não estarei mais ao seu lado...
_ Carlos, não vamos falar sobre isso. Você está aqui comigo agora, não está? (era duro pensar que ele partiria)
_ Estou Agora, mas todos sabemos o que vai acontecer Elisa. Não me preocupo com o que vai acontecer comigo, mas o que acontecerá com você quando eu não estiver. Não quero que sofra, quero que saia e faça o que gosta: escute músicas, cante, vá para festas, leia livros, saia com as amigas.
_ Mas...
_ Eu vou estar bem e irei continuar te amando.
Então foi assim que ele partiu. Apesar de debilitado ele estava lindo, mas meu coração ficou terrivelmente esgotado.
Como viver sem aquele que eu mais amava? Mas eu fui me acostumando a viver sem a presença física de Carlos, porque eu tinha a certeza que espiritualmente ele sempre estará perto de mim.
Não vou dizer que é fácil, porque não é, mas... eu prometi tentar, é isto que estou fazendo.

[Camila Márcia]

2 comentários:

  1. Uau...eu juro que quase chorei. Só de imaginar uma situação parecida com esta já quebra o meu coração... Ainda bem que eu acredito no por vir... Então por mais que se chore por perdas, são apenas perdas passageiras...ne?

    Eu te indiquei pra responder o Desafio dos 7, la no "Totalmente Comum"... acho que você vai gostar.

    Beijim
    ^^

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